Sonhei que caminhava com os pés desnudos por uma estrada recheada de pedregulhos.
Meus passos buscavam os lugares mais limpos daquele caminho, buscando não ferir meus pés. Muitas vezes era impossível encontrar um lugar sem pedregulhos para pisar e, aos poucos, pude senti-los cortando a pele e penetrando na carne.
Meus pés doiam e, a poeira vermelha do chão formavam uma massa disforme misturada ao sangue que vertia das feridas abertas.
Mas, sabia que não podia deixar de seguir em frente, apesar de não saber bem ao certo do porque daquela caminhada.
Caminhei por vários dias, minha boca seca. Sentia sede, sentia fome, mas uma força me obrigava a caminhar. Meus olhos ardiam cada vez que uma lufada de vento levantava o pó ressequido daquela estrada.
Sentia a solidão do meu caminho e, o sol incandescente sobre minha cabeça começava a fazer seus efeitos. Por mais que procurasse uma árvore no meio daquela caminhada não conseguia, até onde minhas vistas alcançavam, vizualisar umazinha que fosse.
Por quantas e quantas vezes quiz despertar e não consegui. cheguei mesmo ao ponto de pensar que tudo aquilo não era um sonho e, sim realidade.
Quando achava que não ia mais aguentar tamanho sofrimento, eis que resolvi erguer meus olhos para o céu e, silenciosamente, passei a fazer uma sincera oração.
Não sei se foi delírio de minha mente exposta ao sol, se foi a falta de hidratação, a fome ou a dor, mas ouvi uma voz suave, doce, a me soprar aos ouvidos: "Não pare agora, pois falta pouco".
Respirei fundo. Balancei a cabeça, mas a voz continuava ali: "Não Pare, não desista agora, pois falta pouco".
Respondi quase aos berros, delirando como um insano: "Não sei se consigo. Tenho sede, sinto fome, meus pés estão em carne viva".
"Não pare, resista. Falta pouco agora"- dizia a voz.
Fechei meus olhos, respirei fundo e, finalmente, decidi continuar em frente.
Já não sentia meus pés doerem, só os lábios ressequidos pelo sol ainda incomodavam um pouco.
Caminhei por mais não sei quanto, até que pude ver um ponto escuro, indefinido no horizonte que, conforme ia me aproximando, pude perceber ser uma árvore, com uma bela sombra. Apertei um pouco meus passos até chegar a ela, onde me atirei sobre suas copas e me deliciei com o frescor de sua sombra.
Agradeci aquela voz pelo encorajamento e, ela me respondeu que ainda faltava um pouco. Respondi que precisava descansar, mas ela insistia para que eu continuasse.
Decidi me sentar, apesar dos apelos da voz e, ao perceber havia adormecido.
Senti meu corpo elevar-se e, de onde estava pude conhecer o Dono da voz suave que abria seus braços em minha direção. Corri para Ele e me aninhei em seus braços.
Com sua voz suave, me disse: "faltou muito pouco, meu filho" e, me mostrou que estava a poucos passos do lugar mais lindo que meus olhos já puderam ver...em vida.
Ajoelhei-me aos seus pés e pus-me a chorar. As lagrimas retiravam a poeira de meu rosto e pude sentir o seu sabor salitre em minha boca. O Dono da voz, segurou meus ombros, colocou-me em pé, limpou minha face, enxugou minhas lágrimas e, me disse: "Você quase conseguiu, faltou muito pouco. Não há demérito, você parou exatamente onde muitos pararam antes de ti. Mas, tua luta não foi em vão e, um dia desses irei até você para lembrá-lo que, mesmo que seja dura a caminhada, mesmo que as dores sejam cruéis, você não deve desistir nunca até voltar para seu lar. Sim, meu filho, aquilo que você viu é o seu lar, NOSSO LAR".
Ao despertar, com aquele sonho ainda fervilhando em minha mente tomei a decisão que, não pararia nunca mais uma vez traçados meus objetivos e, cá estou eu, refazendo a caminhada, só que desta vez, mesmo com dores, com sede, com fome, nada e, nenhuma sombra a beira do caminho, farão com que eu pare até voltar para Casa.
"Nascer, crescer, morrer e, renascer um ser humano melhor, este é o sentido da vida."
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
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