terça-feira, 26 de agosto de 2008

ESTA É DO DIOGO MAINARDI

TEMPERAMENTO DE REBANHO.

- Faz o quatro, Diego Hypólito!
Roubei o mote de um amigo meu. E acrescentei prontamente: o que a queda de Diego Hypólito tem a ver com a nossa queda para o roubo? Qual é o ponto em comum entre a poltronice de nossos atletas e a poltronice dos brasileiros em geral? Como os fracassos de nossos esportistas se relacionam com o nosso fracasso como país?
É o que analisarei a partir de agora, postado na frente do computador, com minha malha eslástica “dégradée”, dando uma rápida pirueta antropológica, seguida por dois parafusos sociológicos e meia dúzias de cambalhotas etnológicas, com grande probabilidade de repetir o feito de Diego Hypólito e aterrissar bisonhamente com o traseiro no tablado.
-Faz o quatro, Diogo Mainardi!
Quem leu minha última coluna pode tentar acompanhar meus volteios. Uma reportagem da semana passada sobre a educação no Brasil, apresenta dois lados.
O primeiro repete aquilo que já sabíamos: temos os estudantes mais analfabetos do planeta. Ninguém compete conosco em matéria de analfabetismo. Somos mais analfabetos que todos os outros analfabetos.
O segunda dado da reportagem é mais espantoso. Uma pesquisa revelou que, ao mesmo tempo em que temos os estudantes mais analfabetos do planeta, estamos plenamente satisfeitos com isso. Alunos, pais e professores aprovam nossas escolas.
Eu entendo os alunos. A escola, para mim, representou uma completa perda de tempo. As melhores escolas foram aquelas que menos me ensinaram, permitindo que eu pulasse o muro e fosse jogar pebolim no boteco da esquina.
Tende-se a superestimar o valor da escola. Os estudantes sabem perfeitamente que, por mais que se empenhem, nada do que os professores lhes disserem terá utilidade prática. É natural que eles se contentem com uma escola que os desobriga de estudar.
Entendo também os professores. Se as escolas fossem menos imprestáveis, boa parte deles seria posta na rua.
O que realmente impressiona é o entorpecimento dos pais. É nesse ponto que reintroduzo o tema inicial do artigo: o fracasso de nossos atletas. E é, neste ponto, que Diego Hypólito e eu aterrissamos com o traseiro no tablado.
O Brasil fracassa nos esportes pelo mesmo motivo que fracassa como país: temos uma sociedade acovardada, fujona, avessa à luta. Tudo aqui é feito para desestimular a disputa, reprimir o desafio pessoal, para amolecer o caráter: o parasitismo estatal, a política fundada no escambo, a cultura baseada no conchavo, a repulsa por idéias discordantes.
Esse nosso temperamento de rebanho inibe qualquer forma de atrito, qualquer tipo de inconformismo, qualquer espécie de enfrentamento e, quando temos que competir, afinamos.
Por isso aprovamos uma escola que produz analfabetos.
Por isso aprovamos governantes que roubam.
A gente se satisfaz com facilidade: basta fazer o quatro.
E nem é preciso conseguir colocar o dedo na ponta do nariz.

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