quinta-feira, 17 de abril de 2008

NÃO É A ORDEM NATURAL DAS COISAS

NÃO É A ORDEM NATURAL DAS COISAS.



Morrer cedo é uma transgressão da ordem natural das coisas. Que pai, em sã consciência, consegue, por um segundo que seja, se imaginar indo ao funeral de um filho?
Acredito que nenhum de nós, não é a ordem natural das coisas.
A ordem natural diz que somos nós que devemos ir primeiro.
Quem consegue se imaginar vendo seu menino tomar um banho, se pentear, eventualmente usar um gel para os cabelos, passar um perfume, vestir sua “beca” mais bonita e calçar seu tênis incrementado, enfim, todo aquele preparativo que antecede a ida a uma festinha de aniversário ou para uma balada?
Com certeza passaria por nossas mentes o pensamento deles: “eu preciso estar bonito, afinal, todos os meus amigos vão estar lá”. O que dizer então, da possibilidade de encontrar com aquela menininha bonitinha que faz meu coraçãozinho disparar todas as vezes que meus olhos pousam sobre ela?
O que jamais passaria por nossas mentes é que aquele momento, aquela noite, seria a última vez que veríamos nosso menino feliz. Que ele voltaria para casa indo embora. Nenhum pai consegue imaginar um momento como esse, nem por um segundo que seja. Não é a ordem natural das coisas.
Uma brincadeira, apenas uma brincadeira e a fatalidade! Basta uma brincadeira, basta um segundo de descuido, para inverter a ordem natural das coisas.
Como imaginar um filho saindo de casa feliz e não mais voltar para nossos braços? Não dá, é impossível de se imaginar. Não podemos tolher-lhes a liberdade, apenas torcer para que tudo corra bem e eles voltem seguros para casa.
O que resta é dor, sentimento de impotência, lembranças daquele rosto tão conhecido e tão amado. Pode restar a sensação de culpa, de ter errado em algum momento, mas que não é a verdade, não existem erros, não existem culpados.
Todos os pais se preocupam com os filhos, principalmente quando não estão sobre nossas vistas. Isso é fato e inegável, pois é a ordem natural das coisas.
O que não faz parte da ordem natural das coisas é saber que, apesar de criarmos nossos filhos para o mundo, como dizem por aí, é não os termos de volta após um passeio, um aniversário, uma balada.
Morrer cedo não faz parte da ordem natural das coisas. Como diz um poema sobre a morte: “Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo, antes de viver até a rapa? Não se faz”.
Morrer cedo, sem nada ter vivido, é um absurdo! Só pode ser brincadeira do destino.
Haverá quem diga que era a hora e, quando ela chega, nada pode ser feito para mudá-la. Outros dirão que está descansando. Digam isso para quem perdeu seu bem mais precioso. Não há o que dizer e, não haverá nada no mundo que faça com que a inversão natural das coisas seja alterada. Não haverá nada que apague ou diminua a dor e o vazio que fica.
Aos amigos ficará a lição de como a vida é frágil, de como em um segundo uma brincadeira pode virar uma fatalidade. Mas, também fica a certeza que não há culpados, ninguém é culpado e, se alguém sentir qualquer resquício de culpa, pense que seu amigo que partiu, não quer que se sinta assim.
O que resta, depois de tudo, é a saudade e a luta para superar a perda. O que resta é a união e o amor daqueles que deveriam ter ido antes, antes de nossos filhos. Nos resta encontrar forças para superar e tentar entender o porque de, justamente conosco, a ordem natural das coisas não terem funcionado como deveria ser.

Nota do autor: esta semana, após 5 dias de luta, Guilherme partiu. Partiu jovem, ainda iniciando a jornada interrompida de forma abrupta e trágica devido a uma brincadeira. Em nome da minha enteada, Ana Luiza, neste meu espaço presto homenagem ao jovem Guilherme Resende, o “Gui”. Aos pais, Oswaldo e Cristina, nosso mais sincero pesar. Sejam fortes, pois a caminhada ainda será longa, mas “Gui” viverá para sempre em nossas lembranças.

Takeyuti Ykeuti Filho.

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